O DEUS QUE CREIO.

Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas as religiões existentes e por existir, Livre de teólogos, dos que se julgam salvos e dos que se crêem filhos da perdição, no Deus que não tem religião, criador do universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos. Creio no Deus que, como o calor do sol, sinto na pele, sem no entanto conseguir fitar ou agarrar o astro que me aquece. Creio no Deus da fé de Jesus. Creio sobretudo que Deus crê em mim, em cada um de nós, em todos os seres gerados, pelo frágil fio de nosso ato de fé.

Fiquem na PAZ.

Pr. Emerson Alves.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

DEUS NEGRO.

Eu, detestando pretos, Eu, sem coração!...
Eu, perdido num coreto, Gritando: "Separação"!
Eu, você, nós... nós todos, Cheios de preconceitos,
Fugindo como se eles carregassem lodo,
Lodo na cor... E com petulância, arrogância,
Afastando a pele irmã. Mas, Estou pensando agora:
E quando chegar minha hora? Meu Deus, se eu morresse amanhã, de manhã!
Numa viagem esquisita, entre nuvens feias e bonitas.

Se eu chegasse lá e um porteiro manco,
Como os aleijados que eu gozei, viesse abrir a porta,
E eu reparasse em sua vista torta, igual àquela que eu critiquei.

Se a sua mão tateasse pelo trinco, Como as mãos do cego que não ajudei!
Se a porta rangesse, chorando os choros que provoquei!
Se uma criança me tomasse pela mão,
Criança como aquela que não embalei!
E me levasse por um corredor florido, colorido,
Como as flores que eu jamais dei!

Se eu sentisse o chão frio,
Como o dos presídios que não visitei!
Se eu visse as paredes caindo,
Como as das creches e asilos que não ajudei!

E se a criança tirasse corpos do caminho,
Corpos que eu não levantei!
Dando desculpas de que eram bêbados, mas eram epiléticos,
Que era vagabundagem, mas era fome!

Meu Deus!
Agora me assusta pronunciar seu nome!

E se mais para a frente a criança cobrisse o corpo nu,
Da prostituta que eu usei!
Ou do moribundo que não olhei!
Ou da velha que não respeitei!
Ou da mãe que não amei!

O corpo de alguém exposto, jogado por minha causa,
Porque não estendi a mão, porque no amor fiz pausa e dei,
Sei lá, só dei desgosto! E, no fim do corredor, o início da decepção!
Que raiva, que desespero, Se visse o mecânico, o operário, aquele vizinho,
O maldito funcionário, e até, até o padeiro, Todos sorrindo não sei de quê!
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.

Deus não está vestido de ouro! Mas como???
Está num simples trono: Simples como não fui, humilde como não sou.

Deus decepção! Deus na cor que eu não queria, Deus cara a cara, face a face,
Sem aquela imponente classe.
Deus simples! Deus negro! Deus negro!?
E eu... Racista, egoísta. E agora?
Na terra só persegui os pretos,
Não aluguei casa, não apertei a mão.
Meu Deus você é negro, que desilusão!

Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão?
Que nada!

Meu Deus você é negro, que decepção !
Não dei emprego, virei o rosto. E agora?
Será que vai me dar um canto, vai me cobrir com seu manto?
Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei?

Deus, eu não podia adivinhar. Por que você se fez assim?
Por que se fez preto, preto como o engraxate,
Aquele que expulsei da frente de casa!
Deus, pregaram você na cruz
E você me pregou uma peça:
Eu me esforcei à beça em tantas coisas,
E cheguei até a pensar em amor,
Mas nunca,
nunca pensei em adivinhar sua cor!...
Autor: Neimar de Barros.